Jantar com a esposa do chefe
Nos últimos sete anos você tem sido o campeão de vendas na Southwest Internacional Napkin Supply [nome forjado pelo autor para formar a sigla SINS - pecados, em inglês (N.R.)]. Seu chefe lhe ofereceu sociedade na SINS, e o convidou para ir jantar na casa dele para discutir os detalhes da sua promoção. Enquanto você dirige pela rua de pedras arredondadas e passa pelos portões da frente, sua cabeça está girando com planos para a imponente mansão que logo você poderá construir para si mesmo. Você está vivendo o seu sonho.
A empregada o recebe na porta, e o encaminha para a sala de jantar. Ali a esposa do patrão, aparentemente vestida para uma noite em particular com o marido, o recebe com beijos mais quentes que o normal nos dois lados do rosto e dispensa a empregada. Ela passa o braço direito no seu braço esquerdo e o leva em direção da mesa de jantar, que você percebe estar posta para dois apenas. No fundo há o som do Bolero de Ravel e duas velas compridas queimam em castiçais de prata.
"Onde está o Daniel?", você pergunta, sem entender.
"Ah! Você não recebeu o recado?", ela pergunta, como se realmente tivesse mandado avisar. "Ele precisou viajar para Buenos Aires para se encontrar com o fornecedor que está ameaçando aumentar os preços. Seremos apenas nós dois a noite toda. Eu estou realmente ansiosa para estudar a nossa nova sociedade na SINS." \
Gotas de suor começam a brotar da sua testa. Sua mente se põe rapidamente a avaliar a situação: Você sempre achou que Carolina fosse uma mulher bonita, e com essa roupa, e nesse cenário, ela está realmente impressionante. Todos os empregados saíram - a mansão está deserta, a não ser por vocês dois. Daniel não estará de volta até a próxima semana, e sua mulher está visitando a mãe dela na cidade de Lincoln. Pela maneira como Carolina está se encostando em você, o nariz dela quase tocando seu colarinho de modo que você chega a sentir o seu hálito quente, você sabe exatamente o que ela espera de você. Se você der o que ela quer, ela provavelmente irá apressar a sua ascensão na escada da organização, exatamente como você sempre desejou. Mas se você for embora – se você ofender essa Imperatriz – pode dar adeus ao seu novo Jaguar.
O que vai acontecer?
A parede do castelo
Um homem na História passou por esse teste com grande sucesso: José. A resposta que ele deu à esposa do seu patrão nos ensina o duplo dever da mente que é a nossa primeira linha de defesa contra os enganos da carne:
José era formoso de porte e de aparência. Aconteceu, depois destas coisas, que a mulher de seu senhor pôs os olhos em José e lhe disse: Deita-te comigo.
Ele, porém, recusou e disse à mulher do seu senhor:Tem-me por mordomo o meu senhor e não sabe do que há em casa, pois tudo o que tem me passou ele às minhas mãos. Ele não é maior do que eu nesta casa e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porque és sua mulher; como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus? Falando ela a José todos os dias, e não lhe dando ele ouvidos, para se deitar com ela e estar com ela (Gn 39.6 -10).
A mente de José estava protegida por dois pensamentos: a mesquinhez do pecado ("Como pois eu cometeria tamanha maldade?") e a graça e bondade de Deus... ("Como, pois, ... pecaria contra Deus "?). Como a sua mente estava preparada para a ação (IPe 1.13-16), ele podia ver além do engano da carne e resistir à tentação - ainda que ela fosse aterradoramente poderosa e resistir custaria a ele mais do que a maioria dos homens poderia suportar. Ele arriscou a sua vida, mas não pecou.
Lembre-se de que a mente é a sentinela da alma, encarregada de julgar e determinar o que é bom e agradável a Deus, de maneira que as afeições possam desejar ardentemente por ele e a vontade o possa escolher. Se a mente falhar na identificação de um pecado como sendo mal, depravado, vil e amargo, as afeições não estarão a salvo de aderir a ele e nem a vontade de dar o seu consentimento. Esse é um lado do muro do castelo, a primeira linha de defesa: Ter em mente que com cada pecado estamos abandonando Deus (Jr 2.19), para nunca esquecer o poder poluente, corrupto e contaminador do pecado - ser sacudido até o âmago pelo ódio que Deus tem ao pecado.
Quando Paulo disse que o amor de Cristo o constrangia (2Co 5.14), ele descreveu o outro lado dessa primeira defesa: A mente precisa se fixar em Deus, especialmente na sua graça e bondade para conosco. O seu amor nos impulsiona, nos estimula e nos leva a obedecer. Ele é a fonte da nossa obediência, e o nosso mais alto motivo para descobrir o que agrada ao Senhor' e fazer isso.
Para andar diante de Deus, este é o primeiro dever da mente: Conhecer e agarrar-se ao mal do pecado e ao amor de Deus. Foi assim que José suportou a esmagadora tentação.
A brecha no muro
A essa altura você deve ter adivinhado que a lei do pecado em nós, pelo ódio que ele tem a Deus, e enganosa como ela é, não ergue os braços em rendição diante da primeira linha de defesa. A carne tem os seus explosivos prontos para minar o muro. Seu primeiro e mais baixo ataque é insultar a graça de Deus para que o pecado pareça menos pecaminoso, menos perigoso e menos ameaçador.
Você tem que entender isto: A carne enfraquece a convicção contra o pecado separando o remédio da graça dos desígnios da graça. As Escrituras não ensinam nada mais claramente do que o desígnio de Deus em mostrar misericórdia é nos tornar pessoas santas: "Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente" (Tt 2.11,12). Mas Deus fornece também um remédio para os nossos lapsos: Seu ardoroso perdão nos dá paz, e assim sabemos que se pecarmos, "temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo" (lJo 2.1).
A carne labuta para fazê-lo esquecer o desígnio (que você é salvo para ser santo) e pensar somente no remédio (se você pecar será perdoado). Ela prega meio evangelho (um evangelho distorcido) para nós: Vá em frente e satisfaça os seus desejos - eles já estão pagos. Aqueles que caem presa de tal engano evidentemente são muitos, uma vez que as Escrituras o condenam de modo tão veemente (Rm 3.5-8; 6.1-4; Jd 4).
Você sabe que a carne fez uma brecha nas suas defesas quando o seu coração está endurecido pelo engano dela (Hb 3.13) de maneira que está descuidado quanto ao pecado. Vai olhar para a sua vida e pensar sobre quão freqüentemente precisa do perdão de Deus, e então ver isso como uma coisa comum, nada com que se preocupar ou se esforçar para modificar. Vai saber que está endurecido quando começar a dilatar as fronteiras da liberdade cristã para incluir tolerâncias que no passado o teriam chocado. A carne vai assoprar ao seu ouvido que severidade e cuidado ansioso quanto à obediência são legalismo - o evangelho veio para livrá-Io de coisas como essas! E além disso, se você realmente cometer um pecado, pode ser perdoado depois.
Além disso, ao depreciar o pecado, a carne usa de artifícios enganosos para·tirar todo pensamento de Deus da nossa mente e enchê-Ia de pensamentos mundanos. A carne sabe que uma mente não pode estar fixa em Deus e nas coisas terrenas (CI 3.2; lJo 2.15). A principal estratégia da carne é introduzir coisas mundanas na mente à guisa de necessidade.
Veja a história do banquete nupcial em Mateus 22. Quando a festa estava pronta o rei manda seus servos buscar os convidados. Mas cada um tinha uma desculpa: alguma coisa mais urgente: "Eles, porém, não se importaram e se foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio" (v. 5). Trabalhar no seu campo pode ser agradável a Deus - ele quer que trabalhemos duramente. Você pode gerenciar um negócio para a glória de Deus e até usá-lo para expandir o seu reino. Mas a carne está fazendo alguma coisa sutil aqui - tirando o que pode ser bom e agradável a Deus e usando isso para expulsar nossos pensamentos de Deus.
Não é difícil imaginar um homem iniciando o seu negócio com o coração resolvido a honrar a Deus de todas as maneiras, e depois sendo levado a extraviar-se. Ele dá um décimo ou mais dos seus lucros para o reino, e Deus abençoa o seu trabalho. Então ele trabalha mais, obtém mais lucros, dá mais a Deus. Isso parece e é sentido como benção de Deus, ainda que seu trabalho duro e as exigências do sucesso comecem a tomar o tempo que ele dedicava à Palavra e à oração pessoal. Agora ele se ocupa mais do seu controle de qualidade do que sobre o controle de Deus sobre a sua vida. O túnel foi cavado sob o muro, e esse desaba, expondo o seu coração ao mais profundo engano da carne.
A sentinela estrábica
Sua mente só pode proteger contra o engano da carne se você for estrábico. Isto é, você só pode manter a podridão do pecado e a bondade de Deus em mente se fixar os seus olhos na cruz. O que, mais do que a cruz, mostra o ódio de Deus pelo pecado? O que, mais do que a cruz, mostra mais o amor de Deus por você? Se quiser saber exatamente o que o pecado merece, você tem de entender a cruz. Se quiser saber o quão profundamente a podridão do pecado chega, você tem de pensar em todas as implicações da cruz. Se quiser saber até onde Deus estava disposto a ir para resgatá-Io do pecado, tem de ver o precioso Filho dele pendurado na cruz por você.
Então, ainda que isso custe-lhe o emprego e os seus sonhos, pode dizer a Carolina para pegar o castiçal para dois e jogá-Io no rio - ou melhor, guardá-Io para o seu marido.
Questões para reflexão e discussão
1. Examine a história de José e a mulher de Potifar em Gênesis 39. Faça uma lista das recompensas que o pecado ofereceu a José. Agora prepare a lista das punições do pecado que ele teve de levar em conta. Você alguma vez já foi confrontado por uma tentação que tivesse tanto em seu favor? Descreva a situação.
2. Há alguma coisa em que você possa pensar que torne o pecado realmente revoltante, de modo que sinta repulsa só de pensar nele? O que é?
3. Existe alguma coisa em que você possa pensar que faça o amor de Deus parecer mais real que o sorriso do seu melhor amigo? O que é?
4. Sugira maneiras pelas quais a carne o distrai de pensar sobre o pecado como revoltante e o amor de Deus como real.
5. Reserve algum tempo para examinar o seu coração para encontrar lugares onde você pode ter ouvido o meio evangelho da carne. Peça ao Espírito Santo para ajudá-lo (SI 139.23,24). Pergunte a ele se agora você está tomando "liberdades cristãs" que condenaria no passado. Se a resposta for positiva, peça a Deus para lhe mostrar se essa é a verdadeira liberdade ou você deu ouvidos à carne.
6. Comece suas orações, todas as manhãs desta semana, fixando os seus olhos na cruz. A cada dia, pense sobre um diferente aspecto da cruz que mostre a vergonha do pecado, e um diferente aspecto que lance luz sobre o amor de Deus. No final da semana, descreva quaisquer efeitos que isso teve nas suas orações ou na sua capacidade para resistir à tentação.
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